Meninos, eu vi


11 jan/2016

“Também vi a cidade incendiada, eu tive medo
Eu vi a escuridão
Eu vi o que não quis

 Chico Buarque & Tom Jobim

Parafraseando estes dois gênios da música popular brasileira, usarei os “Meninos, eu vi” para tentar mostrar o que realmente vi no desastre ambiental ocorrido no dia 5 de novembro com o rompimento das
Barragens de Fundão e Santarém, em Mariana.

Meninos, eu vi através da “Missão Mariana”, realizada nos dias 18 e 19 de dezembro, que contou com a participação de membros de todos os comitês que integram a Bacia Hidrográfica do Rio Doce, a irresponsabilidade de empresas capitalistas – Samarco e seus donos Vale e a anglo-australiana BHP – que, desgraçadamente, colocam o lucro acima de tudo!

Meninos, eu vi a leviandade dos órgãos públicos, seja do Estado ou da União, que concedem licenças ambientais para o funcionamento daquelas barragens em Mariana, além da omissão no processo de  fiscalização.

Meninos, eu vi nas plenárias que realizamos a indignação e revolta dos membros dos comitês – me incluo entre eles -, das autoridades, dos moradores e dos representantes de diversos segmentos da sociedade, com esta “ecocatástrofe” provocada pela Samarco.

Meninos, eu vi as lágrimas escorrerem pelas faces humildes do casal Irene e Zezinho, do Distrito de Bento Rodrigues, lamentando a perda de parentes e amigos, além de seus patrimônios bem como de todas as famílias que residiam naquela comunidade.

Meninos, eu vi a destruição e o sepultamento do distrito de Bento Rodrigues com a lama vinda das Barragens de  Fundão e Santarém.

Meninos, eu vi e fotografei uma plantinha nascendo no meio de toda a lama, exibindo a sua simplicidade e a força da natureza, mostrando-nos que elas podem ser mais importantes para os homens do que a de uma galáxia.

Meninos, eu vi passados todos estes dias  do desastre nas barragens de  Fundão e Santarém, os  rios  que cortam a região correndo com suas águas  barrentas e avermelhadas como se tivessem “chorando lágrimas de sangue”.

Meninos, eu vi o Rio Gualaxo do Norte em Barra Longa onde, por incrível que pareça, o tsunami  de lama subiu rio acima, desde a sua confluência com o Rio do Carmo, cerca de  cinco quilômetros com alguns metros de altura do  material vindo das barragens.

Meninos, eu vi o estrago feito pela lama na zona rural e no centro da cidade  de Barra Longa onde, em alguns  pontos, este barro está a cinco metros de altura nas margens dos rios,  acabando  com toda as matas ciliares, além de  soterramento de animais silvestres.

Meninos, eu vi animais bovinos esqueléticos berrando e perambulando por cima do barro, como se tivessem pedindo socorro, à procura de pastagens e bebendo das águas barrentas que, provavelmente, estão lhes provocando doenças.

Meninos, eu vi na barragem da Usina Hidrelétrica de Candonga, localizada no Rio Doce, as consequências do grande volume e da velocidade da lama que chegou até a esta Usina.

Meninos, eu vi uma série de outras barbaridades provocadas pelo maior desastre ambiental do Brasil e um dos maiores de todo o Planeta, que por problema de espaço tenho que parar por aqui. Meninos, eu vi!

Wilson Acácio 

vice-presidente do CBH-Caratinga