Artigo | Dois anos da tragédia de Mariana | Por Wilson Acácio


20 nov/2017

Dois anos da tragédia de Mariana

Por Wilson Acácio*

No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), deu origem ao maior desastre ambiental do Brasil e ao maior vazamento de rejeitos minerais do mundo. Foram mais de 40 bilhões de litros de lama despejados sobre o subdistrito de Bento Rodrigues, que também atingiram os afluentes do rio Doce e seus quase 800 km de extensão, até desaguar no mar, na localidade de Regência (ES).

Esta foi uma tragédia anunciada, porque a diretoria da Samarco não levou em consideração o que havia dito o projetista da barragem, engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila. Em depoimento à Polícia Federal, ele afirmou que desde 2014 alertava a empresa sobre o estado crítico em que Fundão se encontrava e recomendava providências urgentes em termos de segurança. As orientações do engenheiro não foram levadas em consideração. Desgraçadamente esta empresa capitalista colocou o lucro acima de quaisquer outras questões!

Como consequência desta irresponsabilidade, 19 pessoas morreram, 39 cidades localizadas nas calhas dos rios foram afetadas e, até hoje, 352 famílias – mais de 1.300 pessoas desabrigadas – ainda residem em hotéis na cidade de Mariana. Salienta-se que houve mudanças significativas no modo de vida destas pessoas, porque elas tinham suas atividades sócio-econômico-culturais inteiramente ligadas à zona rural. Um fato sério e triste que está acontecendo em Mariana é que os estudantes das comunidades atingidas, agora obrigados a frequentar as escolas da cidade, estão sofrendo bullying, sendo chamados de “pé de barro” pelos estudantes citadinos!

Representando o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Caratinga, no final do mês de setembro, ao lado de outros representantes dos afluentes das bacias capixabas e mineiras, visitei Mariana para verificar as ações que estão sendo desenvolvidas pela Fundação Renova, criada para desenvolver atividades que visam minimizar os inúmeros impactos sócio-ambientais-econômicos provocados pela lama. Mesmo com o que já foi realizado por esta Fundação, muito ainda tem quer ser feito! Há desconfiança da população sobre a qualidade das águas dos rios atingidos e não existem estudos conclusivos sobre os problemas de saúde provocados pela lama, principalmente na área urbana de Barra Longa. No mar, nas proximidades da foz e no próprio rio Doce, a pesca continua proibida, provocando uma série de problemas sociais. A reconstrução das comunidades diretamente atingidas (Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira) ainda continua no papel. Os moradores cobram seus direitos à renda e à moradia e as indenizações prometidas, que ainda não foram pagas.

Infelizmente, dois anos após esta tragédia, os dirigentes da Samarco que a provocaram ainda continuam soltos e, para piorar ainda mais a situação, um juiz federal de Ponte Nova acolheu um pedido de anulação de todo o processo contra os gerentes da empresa, argumentando que a denúncia do Ministério Público Federal se baseou em provas ilícitas!

 *Wilson Acácio é atualmente é vice-presidente do CBH-Caratinga

  • Mestre em Ciências – Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – 1984.
  • Especialista em Ciências do Ambiente pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) – 1990.
  • Graduado em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – 1971